Fundamentos da fotografia: composição (parte 4)

Nesta parte de nossa série sobre composição fotográfica, nos aprofundaremos nos sete elementos da arte: linhas, formas, volume, espaço, textura, tom (luz e sombra) e cores.

Pablo Sérvio
18 min readMay 24, 2020

Ao longo de toda essa série de textos apresentei alguns termos que quero agora explorar com mais detalhes, assim como apresentar outros. Para construir boas composições fotográficas é primeiro importante aprimorar o olhar, tornarmos mais sensíveis, atentos a alguns elementos, os sete elementos da arte:

1.linhas,
2. formas,
3. volume,
4. espaço,
5. textura,
6. tom (luz e sombra) e
7. cores.

Em um próximo texto, avançaremos, para perceber que uma imagem não se estabelece por uma somatória de elementos isolados. Em um conjunto, criam relações de equilíbrio/desequilíbrio, ênfase, unidade e harmonia, padrões e repetições, contraste, proporção e ritmo. Mas vamos começar pelos sete elementos da arte. Por que precisamos conhecê-los?

Em primeiro lugar porque não há como criar fotografias sem estes elementos. Então mesmo que não trabalhemos com todos, estaremos sempre manipulando dois ou três desses. Uma segunda razão para sensibilizarmos nosso olhar para estes elementos é nos permitir melhor analisar, descrever e comunicar nossos pensamentos sobre nossas imagens e as de outros fotógrafos. Ter estes termos em mente é fundamental para trabalharmos com uma linguagem em comum. Assim como advogados dependem de um léxico para comunicarem-se, nós fotógrafos, precisamos também de um vocabulário detalhado para melhor comunicarmos nossos pensamentos.

Uma fonte fundamental de pesquisa para a escrita deste texto foi o trabalho de Shelley Esaak para o site thoughtco.

LINHAS

O primeiro elemento que quero destacar são as linhas. Seu conceito básico é: um traço contínuo ou imaginário que separa dois planos. Para a arte, as linhas são fundamentais. Tudo começa com elas. Um desenhista, por exemplo, depende das linhas para criar qualquer forma. Algumas tradições artísticas indígenas centram-se em padrões de linhas. Mas e na fotografia?

Embora linhas não existam por si, nossa experiência visual está repleta delas. Linhas podem surgir em nossas imagens de várias formas, podem ser formadas por objetos, definidas pelo horizonte ou mesmo insinuadas por raios de luz.

Fotos por _______________, tbusinah e laserkola

Cabe ressaltar que algumas formas que se repetem podem criar padrões que serão percebidos como linhas. Em Gestalt, campo que estuda a percepção visual, os princípios da semelhança, proximidade e continuidade contribuem para a percepção dessas linhas imaginárias.

Fotos por Andrés Kertész e _____________

Você consegue ver todas essas linhas? Será que tem consciência delas quando fotografamos? Qual o valor de ter esta consciência?

Inicialmente podemos tentar entender que significados as linhas podem trazer para nossas composições. Existem diversos tipos de linha. Podem ser horizontal, vertical, diagonal, curvilínea, helicoidal… A linha horizontal pode evocar uma maior estabilidade, razão, segurança, calma, solidez. A vertical, pode expressar espiritualidade, elevação. A diagonal, mais instabilidade, dinamicidade. A curvilínea, movimento, vida, sensualidade. Cabe ao fotógrafo avaliar os sentidos que essas diferenças trazem para sua imagem considerando ainda o contexto de exposição, um padrão de linhas pode significar algo muito específico para um grupo indígena, por exemplo. A cultura tem um valor primordial na simbologia das linhas.

Fotos por Ray Metzker, Henry Cartier Bresson, gulyildiz1 e boridorm_dreams

Agora compare essas duas imagens abaixo e avalie o que a linha estabelecida pela rua provoca no modo como você observa a imagem.

Fotos por George Steinmetz

Por mais que tenhamos o hábito adquirido de ler da esquerda para a direita, quando se trata de observar imagens, o percurso do nosso olhar não é tão esquemático, rígido, predefinido. Os elementos presentes na imagem em si são fundamentais para determinar o caminho do olhar. Na primeira imagem, a linha criada pela avenida se impõe como um estímulo para que nosso olhar percorra seu traçado. Já a segunda imagem, que não conta com tal linha, e sim apenas um padrão de edifícios, deixa nosso olhar muito mais a deriva, sem uma direção clara.

Tendo consciência de que as linhas guiam nosso olhar, cabe ao fotógrafo criar imagens que guiem o olhar de tal modo que, não atrapalhe, que favoreça seus interesses para a interpretação da imagem. O exemplo acima nos sensibiliza para o poder das linhas de atrair e guiar nosso olhar dentro do enquadramento. Precisamos então estar atentos para as linhas, para usar esse poder de atração ao nosso favor e não contra.

Logo, além de utilizar as linhas para agregar sentidos de estabilidade ou dinamicidade, linhas podem ainda ser aproveitadas para guiar o olhar do observador. Muitas vezes são utilizadas, para guiar o observador até o elemento mais importante da cena, o tema da fotografia.

É válido ter consciência de que as linhas podem guiar nosso olhar mesmo que não se estendam por completo até este algo. Em Gestalt, esse é descrito como o princípio da continuidade.

Fotos por shapa_talabani, Bruno Barbey, gabornagy_photography

Nas imagens abaixo, vemos que o fotógrafo buscou o alinhamento perfeito para aproveitar-se não só da linha com guia mas também para estabelecer um equilíbrio na imagem.

Fotos por itsreuben

No mais, algumas linhas podem ser sugeridas de modo ainda menos explícito e mesmo assim guiarem o olhar do observador.

FORMAS

Linha e forma são dois elementos na arte que são quase sempre usados juntos. Uma forma é criada quando uma linha ou mais de uma se fecham criando uma fronteira. Linhas delimitam espaços, áreas, e por sua vez criam formas diversas, orgânicas ou geométricas. Formas são áreas bidimensionais, com altura e largura.

Enquanto muitos artistas buscaram ressaltar a tridimensionalidade, outros abraçaram a exploração da forma em sua bidimensionalidade. Mondrian e Theo van Doesburg, as formas geométricas, Miró e Matisse formas mais orgânicas.

Obras de Matisse e Mondrian

Formas geométricas são aquelas definidas na matemática e tem nomes comuns, triangulo, círculo, quadrado, por exemplo. Na fotografia elas são mais comumente encontradas em produções humanas, como nas formas da arquitetura, embora também se encontrem na forma dos planetas. Formas orgânicas são o oposto, não tem padrão geométrico matemático, não tem nome. Podem ser encontrados na natureza em abundância. É o caso da forma das nuvens, da copa das árvores. Você percebe essas formas?

Na fotografia de arquitetura, por exemplo, observamos muitas formas geométricas e que podem ganhar ainda mais complexidade por meio da luz e sombra. Assim como no desenho a gradação do claro escuro produz a ilusão de volume, o mesmo acontece na fotografia. Desta forma, a depender da direção da luz e do ângulo adotado pelo fotógrafo, é possível deixar excluir essa gradação de tons e focar na forma das silhuetas formadas pelas sombras. A luz pode criar silhuetas, sombras e imagens em alto contraste que revelam as formas, por exemplo, do corpo humano.

formas geométricas em construções | Fotos por george_byrne, yosigo_yosigo e piariverola.
formas orgânicas com silhuetas | Fotos por Constantine Manos, paolopellegrin e briandelro.

Nesse sentido, embora o mundo que fotografamos seja um mundo em três dimensões, a fotografia, uma imagem bidimensional, pode ressaltar uma bidimensionalidade em uma cena. Assim como algumas fotografias podem ter como tema o prazer estético de ver linhas por si sós, algumas fotografias também exploram o potencial de estímulo das formas por si sós.

O fotógrafo pode se dedicar a revelar a forma das coisas e assim nos fazer percebê-las, apreciá-las, ressignificá-las ou questioná-las.

Fotos por Eliott Erwitt e __________

Forma pode também se relaciona com o espaço para criar espaço negativo e positivo. Voltaremos a este debate no tópico sobre espaço.

VOLUME

O fotógrafo pode ressaltar em sua fotografia vários elementos da composição visual. Pode dar centralidade para uma linha ou mesmo para uma forma. Outra possibilidade é explorar o volume. Volume conota algo tridimensional, tendo altura, largura e profundidade, ao contrário da forma que é bidimensional. O volume é uma forma em três dimensões e como a forma pode ser geométrico ou orgânico.

Volume geométricos são, por exemplo, a esfera, o cubo, a pirâmide, o cone, o cilindro. Também são encontrados com mais facilidade em produções humanas, como na arquitetura. Volumes orgânicos não tem uma forma matemática assim, são sinuosos, curvilíneos, assimétricos.

A arte do tridimensional é fundamentalmente a escultura, contudo mesmo o desenho e a pintura promovem a ilusão de tridimensionalidade. Essa ilusão é atingida por meio de luz e sombra, claro e escuro. A forma definida pelo contorno externo de algo somada à gradação de tons de claro a escuro criam volume. Mas mais do que luz e sombra, importa para a ilusão de volume a gama tonal. Quanto maior a gama tonal, maior a sensação de volume. Volumes com pequena variação de tons aparentam ser mais achatados que os com maior variação. Compare as imagens abaixo e perceba que a primeira produz uma menor ilusão de volume.

Enquanto a arte egípcia baseia-se mais na forma, o barroco ressaltou mais o volume. É por ter maior gradação tonal que as pinturas de Caravaggio, por exemplo, atingem tão efetivamente a ilusão de volume.

Na fotografia podemos ter, como vimos, fotos que representam a bidimensionalidade das formas. Da mesma maneira, podemos ressaltar volume e, como em Caravaggio, aqui a gama tonal é fundamental. Cada proposta deve, portanto, avaliar sua prioridade, a forma bidimensional ou o volume, a ilusão de tridimensionalidade. No trabalho de Edward Weston podemos identificar como ressalta uma certa sensualidade no volume orgânico de vegetais e conchas.

Fotos por Edward Weston

Em escultura é possível falar de volume aberto e volume fechado. Estátuas são exemplos de volumes fechados, o seu interior não é acessível, vemos o seu exterior. Por outro lado, é possível pensar nos volumes abertos também, estes em que vemos o seu interior, sua estrutura interna, suas “entranhas”, com nas obras criados pelo artista James Turrell.

Obras de James Turrell

Tais exemplos nos ajudam a perceber que a ilusão de tridimensionalidade, ou seja de volume, pode ser acrescentada da representação de espaços quando por meio de uma correta reprodução da perspectiva linear. A perspectiva linear produz a ilusão de volume ao representar como menor aquilo que está mais distante, e representar em tamanho maior aquilo que está mais perto de um primeiro plano, tudo condicionado a um plano de fuga. Do renascimento ao século XIX, a arte utilizou-se do Chiaroscuro e da perspectiva linear para criar volume.

Compare as duas cenas abaixo e perceberá que a fotografia pode, portanto, ressaltar por meio de espaços que reforçam o volume na cena, uma profundidade, com a perspectiva em direção a um ponto de fuga.

TOM (LUZ E SOMBRA)

A forma mais fácil de identificar a variedade tonal é pensando em diferentes tons de cinza, do preto mais escuro até o branco mais claro. Uma fotografia em preto e branco é um conjunto de tons. Quanto maior a diversidade de tons, maior será o impacto no sentido de uma ilusão de volume. Se tiver menor gama tonal, parecerá mais turva.

É claro que isso valerá também para fotografias em cores, pois as cores também tem tons ou luminosidades diferentes. Um azul pode ter tom mais escuro ou mais claro. Uma imagem do céu azul, por exemplo, quando convertida para o preto e branco pode revelar a diversidade tonal que há lá.

Lembre, fotografia é o registro da luz, mas também da ausência de luz, da sombra. Fotografias possuem zonas de tons mais claros criados pela luz e zonas de tons mais escuros, as sombras.

Foto por eliapelle

O tom de uma imagem, para a fotografia, depende amplamente do modo como está iluminada e das configurações de exposição definidas pelo fotógrafo. Por isso o tom é associado na fotografia à luz e sombra. A mesma cena com diferentes distribuições de luz e sombra produz imagens completamente distintas.

Fotos por Trent Park e eugenesmithfund

Estes retratos não trazem apenas poses diferentes, trazem diferentes propostas de iluminação.

Fotos por _leencheen_, Richard Avedon.

Criar uma fotografia exige uma análise da qualidade da luz que ilumina a cena em questão. Diferentes intensidades, direção, natureza e cor da luz podem dar a uma mesma cena sentidos completamente diferentes. Quanto à direção, por exemplo, uma pessoa iluminada de baixo para cima é tão inusitado que o efeito assustador é bastante aproveitado no cinema de terror. Quanto à sua natureza, a luz pode ser mais suave ou mais dura.

Como você avalia o valor das sombras nesses retratos?

Considerando o jogo entre mostrar e esconder que luz e sombra travam é possível criar imagens bastante criativas. Devemos frizar ainda que a luz, assim como a sombra, também pode esconder. Zonas de luzes extremas ou mesmo de sombras extremas podem apagar de nossa visão certas informações.

a luz pode esconder, assim como a sombra | Fotos por Diane Arbus e christopherandersonphoto.

CORES

Na natureza existe um fenômeno físico chamado radiação eletromagnética. Podendo se manifestar com diversos comprimentos de onda, grande parte da radiação eletromagnética é invisível aos olhos, raios x, infravermelho, ultravioleta… Mas existe a radiação eletromagnética que chamamos de luz visível e é dentro do espectro da luz visível que podemos encontrar todas as cores. Em parte as cores são um fenômeno físico, contudo, também são fenômeno fisiológico. Afinal, animais distintos, com suas várias formas de olhos, processam e vivenciam de modos diferentes os espectros de radiação eletromagnética. Existe no mais toda uma discussão sobre o quanto nossa experiência das cores não é só determinada geneticamente, mas também construída nas relações culturais. Portanto, trata-se de um fenômeno complexo.

Na história da arte, as cores de modo geral tiveram papel de extrema importância e discussão. Houve certamente uma tendência forte, especialmente na escultura renascentista, barroca e neoclássica de negar as cores, porém sob a influência da ideia equivocada de que a tradição clássica não trabalhava com cores. Acusou-se o colorido de apelar demasiadamente para o corpo, para os sentidos, e não para o intelecto. As imagens abaixo mostram escultura clássica sem cores, assim como estamos acostumados e o resultado de um estudo com luz ultravioleta que demonstrou que estas mesmas esculturas eram repletas de cores.

Na história da fotografia essa resistência teve influência. Por muito, mesmo quando a fotografia colorida já era acessível, fotógrafos associaram o trabalho artístico ao preto e branco, enquanto associavam os produtos da indústria, da mídia, entendidos como sensacionalistas e intelectualmente inferiores, aos apelos do colorido. Felizmente, fotógrafos como William Eggleston quebraram essa resistência e abriram espaço para a fotografia em cores no campo da arte. Em uma busca mais formalista, menos narrativa, se algumas fotos tem como tema as próprias formas, outras tem nas cores sua razão de existir.

Fotos por William Eggleston

De toda forma, você deve avaliar se as cores acrescentam informações relevantes para sua cena. Se não for este o caso, para você, busque o preto e branco. Aqui a regra da simplicidade mais uma vez se impõe. Para a proposta de muitos fotógrafos o preto e branco é ideal por simplificar a cena, excluindo a distração que as cores poderiam trazer. Trabalhar com cores significa adicionar uma camada de informação a mais o que torna mais difícil simplificar. É preciso ter cuidado com a quantidade de cores e sua distribuição para a cena não ficar involuntariamente caótica. Por isso, por vezes o preto e branco será sim a melhor opção.

Contudo, as cores não são assim tão facilmente dispensáveis e em muitas ocasiões serão fundamentais para a compreensão da fotografia. Em certas situações elas serão a razão da foto.

Pense na famosa foto de Steve McCurry abaixo, compare com a versão em preto e branco. Neste caso as cores seriam dispensáveis?

Foto por Steve McCurry

O certo é que as cores podem ser mais uma elemento presente em uma fotografia adicionando assim toda uma camada de informações que produzem sensações e significados. As cores tem significados. Alguns argumentam que por determinação biológica. Outros reforçam a importância do aprendizado, da cultura. Com certeza, há uma participação da cultura. Seja como for, o fotógrafo deve buscar compreender os sentidos que são evocados pelas cores que está explorando. Diz-se que amarelo remete a otimismo, clareza, calor. O laranja ao amigável, alegre, à confiança. O vermelho ao excitante, jovem, ousado. O violeta à criatividade, imaginação, sabedoria. O azul à confiança, segurança, força. O verde ao pacífico, ao crescimento e à saúde. Embora não devamos tomar essas associações como inquestionáveis, podemos tê-las como referência.

Ainda no espírito de que precisamos dominar um vocabulário que nos dê mais ferramentas de análise e que permita que nos comuniquemos melhor, podemos nos aprofundar na compreensão das cores por meio de três termos: matiz (em inglês, hue), luminosidade (value) e saturação (saturation ou chroma). Matiz se refere à distintas qualidades pelas quis podemos distinguir uma cor da outra. Luminosidade descreve a claridade da cor, que pode estar mais ou menos clara, mais ou menos escura. A luminosidade máxima produz o branco, a luminosidade mínima produz o preto, nestes casos já não é possível reconhecer a matiz. Saturação descreve a força da cor, que pode estar mais forte, vibrante, ou mais fraca, pálida, sendo que a ausência de saturação produz tom de cinza e já não é possível reconhecer a matiz.

O círculo cromático também é uma importante referência para a classificação das cores. Em relação à matiz, podemos dividir as cores em dois conjuntos, cores frias e as cores quentes. Vermelho, laranja e amarelo são cores quentes. Verde, azul, violetas são cores frias. Tradicionalmente se afirma que cores quentes tem maior poder de ênfase, são mais ativas, excitantes, enquanto, de modo oposto, cores frias são mais suaves e calmas.

Fotos por atmospherics e aero.h

O círculo cromático também é utilizado como uma referência para a criação de paletas de cores, para o desenvolvimento de combinações com harmonia. Algumas imagens exploram paletas de cores monocromáticas, esta é a alternativa mais simples. Outras exploram combinações de cores análogas, complementares ou triádicas. Use o site Adobe Color para pensar e criar paletas de cores.

tipos de combinação de cores

Veja os exemplos abaixo:

combinações de cores monocromáticas | Fotos por denisseaps e mkwlsn
combinações de cores análogas | Fotos por arnaudmontagard e Constantine Manos
Combinações de cores complementares | Fotos por steeleperkins e lp.moreira
Combinações de cores triádicas | Fotos por Constantine Manos e Saul Leiter

Sobre as combinações com cores complementares podemos lembrar que chamadas assim pois uma provoca a outra no fenômeno das pós-imagens, como se uma desejasse a outra como complemento. Uma dica frequentemente lembrada é que em composições com cores complementares, uma das duas esteja mais predominante do que a outra.

TEXTURA

Textura trata de nossa sensação ao tocar algo tridimensional, é uma qualidade táctil da superfície de um objeto. Em esculturas, o material (madeira, mármore, metal…) utilizado juntamente como o modo como é trabalhado estabelecem esta qualidade táctil. A textura poderá ser descrita de várias formas: grosseira, macio, áspera, aveludada, polida são algumas possibilidades. É interessante destacar que por vezes os artistas incluem texturas distintas, contraditórias, como uma forma de ressaltar esse aspecto de suas obras.

Mas é possível falar de textura em trabalhos artísticos bidimensionais como a fotografia ou um desenho, como uma sensação evocada visualmente, embora não constatada no tato. Neste caso como o volume, também podemos experimentar a ilusão de textura em uma fotografia.

Fotos por _macius_ , Richard Avedon.

Na fotografia a textura pode ser ressaltada com a direção da luz e com sua natureza (mais dura) de modo a destacar, marcar, as sombras.

A direção da luz é fundamental se o interesse for diminuir a textura. É para apagar marcas de rugas que muitas modelos mulheres são fotografadas ou filmadas com iluminações mais frontais. Deixando a luz na direção que chamamos paramont ou butterfly essa intenção pode ser efetivada.

Fotos por Richard Avedon.

ESPAÇO

Espaço se refere a áreas ou distâncias ao redor ou entre componentes de uma obra. Uma escultura com um buraco no meio tem seu efeito tanto por sua matéria, quando desse espaço vazio. Da mesma forma uma pintura japonês, tem seu efeito não apenas pelas partes em que o artista aplicou tinta, mas também em função das partes em que decidiu que continuassem em branco. É nesse sentido que nos referimos a espaço positivo e espaço negativo. Espaço positivo é o tema em si, espaço negativo é o espaço que o artista criou ao redor do tema.

Por Henry Moore
Por Dai Jin
Fotos por George DeWolfe

Uma fotografia também tem um espaço positivo e um negativo. Enquanto o espaço positivo é o assunto principal, o tema da foto, o espaço negativo pode contextualizar a cena e conduzir o olhar para o assunto principal.

Como explicamos em outro momento, o espaço negativo deve ter simplicidade, do contrário, trazendo poluição, provocaria dificuldade para o observador entender o que é o tema principal da cena.

É importante ainda ressaltar que o espaço negativo pode trazer informações de contexto fundamentais para a compreensão da cena.

Composição — Parte 1
- A importância de simplificar
- Relação tema/plano de fundo
- O risco das intersecções

Composição — Parte 2
- Centralizar
- Regra dos terços
- Ângulos e planos

Composição — Parte 3
- Dicas para cenas com pessoas e paisagens
- Proporções e orientações

Composição — Parte 4
- sete elementos da arte: linhas, formas, volume, espaço, textura, tom (luz e sombra) e cores

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Pablo Sérvio
Pablo Sérvio

Professor do curso de licenciatura em artes visuais da UFMA